
Podia bem ser o final do mundo. Ou antes, o que vinha depois. Depois do deserto, dos buracos, da poeira e dos oásis – a pequena casa; discreta, a não ser pela solidão com que se erguia da terra.
Uns carros em volta. Os homens na porta.
História de uma mulher.
O percurso, a casa e todos ali.
Embora não fosse ela que a tudo sustentasse no lugar.
Enquanto se esperava, o sol queimava no mesmo silêncio; podia muito bem nada existir.
Então os homens entravam um punhado por vez. Todas as cadeiras voltadas para a cortina.
A mulher em algum lugar.
De repente, a mão se deixava ver. Delicada e ardente. Surgia dum canto e ali mesmo sumia.
Num outro canto, o pé, e os dedinhos, e as unhas pálidas.
Então uma perna (as luzes apagadas, o holofote no palco), toda uma coxa irrompia, provocando a castidade da cortina. Pra fugir depois dos olhos.
Tudo durava poucos minutos. Quando acabava, acendiam-se as luzes.
Nada era cobrado. Nada era servido.
Os homens se erguiam, e davam lugar aos outros, a sentarem como os primeiros, a espera do escândalo.
(Arte: Luiz Cadaval)
Gostei de tudo, das escrituras verbais, das escrituras não-verbais, do título do blogue...
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