quarta-feira, 27 de abril de 2011

Juventudes


Era como se fôssemos uma só vida. Nos encontrávamos nas quietudes.

Agora há demasiadas palavras entre nossos silêncios.



(Arte: Luiz Cadaval)


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Escrever


no meio do cotidiano; – não era preciso grandes coisas: umas xícaras de café, um maço de cigarros; uns hábitos espontâneos e distraídos do mundo. A conversa com os pudores.

Estava a serviço.



(Arte: Luiz Cadaval)

terça-feira, 19 de abril de 2011

se e somente se


Ele sentiu que sofria, e olhou em volta sentindo que também todos sofriam, e repetiu para si mesmo todos sofriam, e isto o confortaria se e somente se estivessem chorando.


(Arte: Luiz Cadaval)

domingo, 17 de abril de 2011

O Mal


Caminhava com a mancha do triunfo; sobre o mal, e agora que tudo estava enterrado, gozava de um sorriso vitorioso.

Tudo superado, e tudo, à sua volta, em seu corpo, apodrecendo – era demasiada a satisfação para que ouvisse seu nariz.

Assim intricava-se o cálculo da natureza incerta.


(Arte: Luiz Cadaval)

terça-feira, 12 de abril de 2011

A Outra Felicidade


Pensou que, se a alegria do mundo se invertesse, seria feliz. Se o significado da felicidade fosse reestruturado, seria feliz. Se as pessoas que, dizia-se, viviam a felicidade, fossem vistas como portadoras da tristeza, seria feliz.

E o pensamento fez com que ficasse triste, e ansiasse pelo momento em que seria outro.



(Arte: Luiz Cadaval)

sábado, 9 de abril de 2011

As Cidades e os Ouvidos


Quero te levar pra minha cidade. Essa que se mistura e se confunde com ela mesma. Quero te mostrar que não há cidade. Ainda que por força de algum hábito uma distância venha a nos desconhecer.

Mas mais que tudo, quero que a ouça. Com esses ouvidos que ela te deu.




(Arte: Luiz Cadaval)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um Homem


Era um homem feliz. Até nos dedos dos pés, que gostava de agitar vez por outra, como se os fizesse rir.

Se morresse, e fossem falar de sua vida, diriam isso. Que era feliz. E diriam também do espelho que carregava consigo, e que a toda hora puxava do bolso; como se se perdesse caso não o fizesse (no qual se prendia cada vez o fazia).



(Arte: Luiz Cadaval)