
Sentiu uma pontada nos nervos. Veio-lhe de surpresa, como costumava acontecer. Se apressou em achar um banco: passaria o susto sentado.
Foi encontrar assento numa praça movimentada, no centro da cidade. Era o horário do almoço, e no espaço de um minuto, via-se centenas de rostos. Sentou na ponta do banco; na outra, um velho fedorento que parecia dormir. Cabeça baixa, braços cruzados, o chapéu fazendo sombra nos olhos.
O susto começava a passar, os nervos aos poucos se despregavam da carne. Seu rosto novamente voltava a ter um aspecto mais ou menos saudável. No mínimo aceitável para durar até o fim do dia.
Quando se sentiu suficientemente calmo, respirou fundo, soltou o ar pela boca, esperou um instante, e levantou. Nisso, o velho, que dormia, despertou, olhou para ele que se preparava para ir embora, e disse:
– O senhor me arranjaria um cigarro.
(Arte: Luiz Cadaval)
Nenhum comentário:
Postar um comentário