quinta-feira, 3 de março de 2011

O Folião

O bloco passava em frente a sua casa. As panelas na cozinha tremiam em cima da mesa, como se acompanhando a batida da bateria.

Seu coração também batia apressado, entre assustado e desejoso. Abriu devagarinho a cortina da janela da frente, apenas uma fresta, para ver o que acontecia. Quando viu a multidão, fechou-a e se afastou. O coração tremendo junto das panelas.

Foi para o quarto, zanzando entre uma parede e outra. Chega, pensou. Basta! Vou sair, disse às paredes.

Calçou os sapatos, vestiu uma camisa que lhe parecia apropriada, e fechou a porta atrás de si. De repente, estava no meio da multidão.

Não podia ficar parado, corria o risco de o pisotearem. Foi seguindo a folia, num compasso contido. Socorro!, dizia ao seu coração, que seguia num compasso à frente. Ajudem-me! Dali já não via a casa.

Seu remédio era caminhar. Assim o fez.

Foi dar, horas depois, muito longe do lar, suado e com os pés doloridos, não sabia bem aonde. A multidão dispersara. Estava só outra vez. Virou as costas, e começou o caminho de volta.

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